domingo, 19 de junho de 2011

E ESSA AGORA/

15/06/2011 - 19h30 / Atualizada 15/06/2011 - 21h41
Em terra de computação na nuvem, quem tem conexão é rei: testamos o Chromebook
RODRIGO VITULLI || Do UOL TecnologiaComentários [3]
“Então o Google está me desafiando a viver nas nuvens?”, pensei ao me deparar com o CR-48, o computador do Google (a máquina é um protótipo dos primeiros notebooks com o Chrome OS, que chegaram às lojas dos EUA nesta quarta, 15). “Justo eu, um usuário ativo dos mais diversos softwares e dependente de diversos de arquivos espalhados em pelo menos uma dezena de pendrives e HDs?” Desafio aceito! Durante dois dias usei o Chrome OS para realizar as atividades cotidianas, de trabalho e entretenimento e... não foi fácil. O sistema operacional do Google encanta pela simplicidade, mas é justamente a estrutura minimalista que peca em vários aspectos. Acompanhe a seguir o relato de quem usou, aprovou, mas não levaria tudo para nuvem: pelo menos não tão cedo.

Tirar o primeiro notebook com Chrome OS da embalagem é, no mínimo, estranho. O aparelho não tem marca, fabricante ou qualquer outra especificação. É apenas um notebook, que, de tão leve (pesa 1,7 Kg), pode ser confundido com um netbook. Aliás, é justamente na categoria de netbooks que alguns o enquadram. Eu prefiro pensar que não há categorias para ele, senão a própria: chromebooks. A ausência de algumas teclas parece uma pretensão soberba de reinventar o layout do teclado. “Cadê as teclas CapsLock , F1, F2 e F3 que deveriam estar aqui?” Silêncio sepulcral... Mas, vamos lá!

Ver em tamanho maiorChrome OSFoto 1 de 24 - Bonito, leve e prático. O CR-48, o computador misterioso do Google é o primeiro a receber o sistema operacional Chrome OS. Ele é funcional, mas é preciso coragem e determinação para levar todos os arquivos para as nuvens Flávio Florido/UOLSim, senhores, o CR-48 liga em oito segundos - e em alguns casos até em menos tempo. E, como esperado, eu preciso me identificar usando uma conta do Google logo na primeira tela. Para isso, utilizei uma conexão Wi-Fi, facilmente reconhecida pelo sistema. Devidamente identificado, o CR-48 resolveu que era hora de tirar uma foto do meu rosto utilizando uma webcam instalada acima da tela. Ok, pose para a foto (eu já possuía uma imagem de apresentação na conta do Google, mas tudo bem). Conecto meu mouse à única porta USB disponível e parto para uma vida virtual 100% na nuvem.

Na nuvem

Uma vez logado, me deparo com o que já sabia (de apresentações prévias do Google), mas custava a acreditar. O Chrome OS é, na verdade, um grande Chromão. Entenda por Chromão o já conhecido Chrome, o navegador.

Todos os elementos estão lá: as mesmas abas, os mesmos botões e exatamente o mesmo layout da página inicial navegador. Pronto. Esse é o sistema operacional. Para utilizá-lo, digite o endereço na barra superior e aproveite. Não há ícones, softwares, menu iniciar, nada. Só um grande e convidativo chamado para explorar os aplicativos da Chrome Web Store que, na prática, oferece os mesmíssimos aplicativos para qualquer usuário do navegador (esteja você no CR-48 ou qualquer outro computador). Simples, né? Mas da simplicidade surgiu primeiro problema.

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Logo na primeira atividade do dia precisei organizar arquivos em um pendrive – porque obviamente eu não depositava tudo na nuvem. Foi quando descobri que o Chrome tem um gerenciador de arquivos. É limitado, lento, mas tem. E lá se foi um bom tempo tentando copiar arquivos de uma pasta para outra. Depois de mais de uma hora olhando tutoriais na web, consegui mover o conteúdo. Sim, a ação, que dura segundos no Windows, MacOS ou Linux, custou boa parte da minha manhã. Eu sei, Google, “a nuvem, a nuvem”. Mas achar que todas as pessoas vão simplesmente migrar para ela, de uma hora para a outra, talvez seja muita audácia.

É compreensível que a filosofia da empresa de serviços online seja fazer o upload de todo o conteúdo digital dos usuários. Ainda assim, ponto negativo para o gerenciador de arquivos.

Justiça seja feita: a Chrome Web Store evoluiu consideravelmente desde quando foi inaugurada. Há milhares de aplicativos disponíveis; alguns deles tão complexos que simulam softwares “rechonchudos”, como o Photoshop, da Adobe. Depois de organizar todas as minhas fotos, utilizei um editor que sanou minhas necessidades mais básicas, como alterar tamanhos, fazer recorte e ajustes mínimos de cor. Vale lembrar: o aplicativo é totalmente baseado na nuvem, então é possível acessá-lo de qualquer navegador e usufruir de todas as funcionalidades, utilizando o Chrome OS ou não.



Caí da nuvem

Ainda assim, existem certas atividades que ainda não são possíveis de se realizar na nuvem. E tarefas bem básicas – o que me levou ao segundo problema: falta de gravador de áudio. Ainda pela manhã precisava registrar em áudio uma entrevista que faria por telefone. Costumo usar recursos nativos do Windows ou Mac para isso, mas estava impedido, pela minha consciência, de fugir para fora da nuvem. Não consegui encontrar um aplicativo ou site que fizesse as vezes de gravador de áudio na Web Store. Os que existem, não funcionaram. O jeito foi anotar tudo no Google Docs.

Google, dessa vez não tem desculpas. O mínimo que se espera do um computador hoje é que ele realize operações básicas, como gravar som, e seu sistema operacional me deixou na mão. Ok, o Chrome OS ainda está em desenvolvimento e novos aplicativos devem surgir para suprir essas necessidades, mas foi #muitafaltadesacanagem. Vamos em frente.




Tela inicial do Chrome OS: todos os aplicativos instalados ficam dispostos lado a lado no menu

Ao longo do dia, consegui me virar bem com o Google Docs, o Gmail e a reconhecida rapidez do navegador do Google. Para navegar na internet, ele é ótimo. Ajustar configurações de teclado, touchpad, idioma e conta é muito simples também – tudo feito por essa interface do navegador. A ausência da tecla CapsLock , que a principio me causou estranheza, foi facilmente superada pela facilidade de abrir novas abas com o botão que antes era usado para designar caixa alta às letras (quem quiser pode reverter a função e usar a tradicional CapsLock normalmente). Ponto para o Chrome! Para quem só quer navegar na internet (essa expressão é tão 1999!!) e gerenciar arquivos simples, o sistema é uma ótima opção. A não ser que...

A conexão caia, e você não consiga fazer mais nada. Aconteceu comigo. Precisei mudar de ambiente e de repente o arquivo em que eu mexia, apesar de salvo na nuvem, ficou inacessível. Sim, 90% das atividades executáveis do Chrome OS só são possíveis online. Sem internet, no máximo um editor de texto bem primitivo e o gerenciamento de arquivos. Velho dilema: dá para confiar nas operadoras de 3G e provedoras de internet a ponto de depender exclusivamente dela para viver digitalmente? Eu acho que não.

No dia seguinte, o segundo de testes, já fui calejado. Sabia das limitações que encontraria no sistema e por isso adequei minhas atividades a elas, mesmo que inconscientemente (não salvar arquivos no pendrive, por saber das dificuldades que encontraria, por exemplo). Quando me dei conta do que estava fazendo, não gostei: “Não sou eu que devo me adequar às limitações de um sistema operacional, e sim o contrário”. A conclusão foi espontânea. Usuários ativos como eu, fiquem longe do Chrome OS! Ele não será suficiente para suas necessidades. Usuários “light”, poderão optar por uma solução barata e funcional para “navegar na web” quando os aparelhos da Acer e da Samsung com o sistema operacional do Google chegarem ao Brasil. Eu não troco, não agora.
E vamos por aí!
Arthur

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